8 de ago. de 2011

Se a ocasião faz o ladrão, o que é preciso para fazer a corrupção?

Se você mora em uma grande cidade, já aprendeu algumas lições sobre como diminuir os riscos de ser roubado. Se esse não é seu caso, aqui vão algumas dicas. Não deixe em cima da mesa do bar objetos de valor, tais como celular, carteira ou câmera. Não coloque sua bolsa ou mochila no banco do passageiro, principalmente enquanto estiver em um congestionamento. Quando estiver no aeroporto ou em um hotel, fique atento à sua bagagem. No banco, evite contar e guardar o dinheiro sacado na frente dos outros clientes.

Aprendemos essas lições por experiência própria ou com pessoas que tiveram a infelicidade de se tornarem vítimas. Por isso, é muito melhor evitar a ocasião que facilita a vida dos ladrões. Eles sempre preferem agir na surpresa e atacar aquelas vítimas menos precavidas. Não é à toa que os turistas são as principais presas desses criminosos. Como vimos nos exemplos acima, a ocasião faz mesmo o ladrão. Mas o que teremos se, junto com a ocasião, houver poder, ou mais especificamente o desequilíbrio de poder? Nesse caso teremos a extorsão.

Aqui estão algumas situações típicas de ocasião somada a poder. Você é parado por um policial na estrada ou recebe a visita de um fiscal na sua empresa. A probabilidade deles encontrarem algo errado é enorme, principalmente porque esses profissionais tem o “dedo pobre”, ou seja, são treinados para tocar justamente naquele ponto que está irregular. Quando eles encontram a ocasião, eles passam a exercer o poder. Essa mistura inflamável resulta em uma multa exorbitante ou em um acerto de contas informal, também chamado de extorsão.

E o que temos quando somamos o networking à essa equação? Ai temos a corrupção! Basta analisar qualquer um dos escândalos que aparecem todos os dias nos noticiários, principalmente aqueles envolvendo políticos. Eles possuem sempre a mesma fórmula: ocasião + poder + networking = corrupção. Para que alguém seja corrompido, é imprescindível que exista o corrupto. Mas essas duas partes não se encontram por acaso. É preciso que exista uma rede de relacionamento que os interligue. Todo esse networking acaba sendo beneficiado quando algum “esquema” é colocado em prática.

Para entender como a equação da corrupção funciona na prática, vamos a alguns exemplos hipotéticos, meramente ilustrativos. Vamos supor que o Ministro dos Transportes não tem nenhum relacionamento com o proprietário da empreiteira que será contratada para construir uma estrada que ligará nada à lugar-nenhum. Entre os dois existem diversas pessoas. Do lado da contratante podem estar o Diretor do DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes) e seus assessores. Do lado da contratada estão os executivos da empreiteira, além de seus fornecedores de insumos e de mão-de-obra. Não é preciso que todas as pessoas nessa estrutura sejam corruptas. Só é necessário encontrar as pessoas certas (não no sentido de pessoas direitas, honestas) que façam as duas pontas se encontrarem. 

Nos próximos anos o Brasil estará sediando os principais eventos esportivos do mundo. Para essas ocasiões serão necessários bilhões de reais de investimentos em obras públicas de infraestrutura, tais como ampliação de aeroportos, recuperação de rodovias, construção de ferrovias, como o trem-bala. As instituições, sejam públicas ou privadas, envolvidas com essas obras possuem o poder para realizar a contratação, coordenação, aprovação, implementação ou administração desses empreendimentos farônicos. Para que a corrupção surja basta que o networking dos envolvidos funcione com eficiência nos bastidores escuros do nosso País.

Como cidadão, todos nós temos o dever de fiscalizar àqueles que estão no Poder e a obrigação de denunciar, de tornar público, qualquer rede de relacionamento corrupta. Tirando essas duas incógnitas da equação da corrupção, resta apenas a ocasião, que só fará o ladrão. E se gritar “pega ladrão... não fica um, meu irmão!”

Um comentário:

  1. Muito boa, a equação da corrupção! E é incrível como não conseguimos extirpar um dos elos...
    Adorei também o 'dedo pobre'.
    Excelente o exemplo que você usou
    E é assustador imaginar a quantidade de malversação de fundos que virá nos próximos 5 anos....
    Se ao menos a presidente continuasse a limpar a casa, quem sabe...

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