Procure no dicionário a definição da palavra "crime". Resumidamente, em termos jurídicos, é toda conduta, ação ou omissão típica, ilícita e culpável praticada por um ser humano. Os tipos penais mais comumente noticiados, e por isso mais conhecidos, são os crimes contra o patrimônio (furto, roubo, latrocínio, receptação, extorsão e sequestro); crimes econômicos (estelionato, lavagem de dinheiro e fraude); crimes contra a vida (homicídio, auxílio a suicídio ou aborto); e crimes contra a dignidade sexual (estupro, corrupção de menores e assédio sexual).
A lista com os tipos de crimes é bem ampla, assim como são as penas contra os indivíduos que os comentem. Mas será mesmo que existe o tal crime perfeito? A letra da música "Pra ser sincero" da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii nos dá a resposta: "Nós dois temos os mesmos defeitos / Sabemos tudo a nosso respeito / Somos suspeitos de um crime perfeito / Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos".
Por definição, o crime perfeito é aquele cometido com tal planejamento e habilidade, que nenhuma evidência é deixada e o culpado não pode ser encontrado. Também pode ser aquele não detectado depois de cometido ou ainda, quando não deixa suspeitas que justifiquem uma investigação. Estudiosos sobre criminalidade afirmam que um crime perfeito não fica insolúvel por causa da falta de recursos ou da incompetência da polícia, mas sim pela habilidade do criminoso.
De fato, o crime perfeito existe! Mas, em geral, ele é cometido por uma pessoa, sem comparsas. O caso mais clássico é o de Jack, o Estripador; assassino em série que nunca foi identificado. Seus ataques ocorreram em Londres no ano de 1888 e suas vítimas eram prostitutas, que tinham a garganta cortada e o corpo mutilado, com a remoção de órgãos internos. Outros casos emblemáticos entraram para a história justamente pelo criminoso conseguir escapar impune.
Mas quando o ato envolve mais de um criminoso, é praticamente impossível que ele chegue à perfeição. O networking do crime é desorganizado e desestruturado. Os integrantes de uma organização criminosa são movidos por interesses distintos e por isso não conseguem manter um plano em segredo quando são pressionados, coagidos ou se vêm prejudicados por um dos participantes. Vamos a alguns exemplos.
Em um homicídio, o mandante tem como interesse a vingança, mas o executor é movido pelo dinheiro. Por mais bem planejado, os cúmplices precisam de álibis para deixarem de ser suspeitos. Então, os dois inicialmente envolvidos agora são quatro compartilhando da mesma mentira, todos de "rabo preso". Basta um pequeno desentendimento entre qualquer um deles para que toda a verdade venha à tona e o verdadeiro culpado seja revelado.
Um dos casos recentes ainda sem solução é o de Eliza Samudio, que era amante do ex-goleiro do Flamengo, Bruno. Com o desaparecimento de Eliza, não demorou para a polícia chegar ao atleta. Quando estava grávida, ela teria sido agredida e ameaçada de morte por ele e a teria forçado ao abordo. Mesmo usando amigos e familiares como álibis, a polícia conseguiu juntar provas que indicavam a participação do goleiro no crime. A ausência do corpo da vítima está atrasando a solução do caso, mas não impedirá que os culpados sejam punidos.
Pode-se afirmar, então, que os crimes que não ficam impunes são justamente aqueles que envolvem mais de uma pessoa. Esse é o caso de extorsão mediante sequestro, ou seja, aquele que visa obter vantagem como condição do resgate. Também é o caso de fraude contra o sistema financeiro. Os autores do chamado crime do colarinho branco, por exemplo, se utilizam de métodos muito sofisticados e de transações complexas para dificultar a descoberta e investigação pela polícia. Mesmo assim, eles serão descobertos quando um dos envolvidos não obtiver o ganho financeiro esperado.
O delator, informalmente conhecido como cagueta ou X9, é a principal arma da polícia contra qualquer tipo de crime. Só se essa figura não existisse dentro do networking do mal, é que prevaleceria o crime perfeito!
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