19 de out. de 2010

Você já assistiu ao filme Tropa de Elite 2? Sabe como funciona "o Sistema" de poder retratado no filme?

O filme “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” é um enorme sucesso! Já bateu recorde de bilheteria nacional com mais de 1,25 milhão de espectadores em seu primeiro final de semana. Você, que já assistiu à essa sequência de Tropa de Elite, percebeu que a estrutura de poder, chamada de “o Sistema”, é o ponto central da trama. Mas você entendeu bem como funciona essa rede de poder? Você que ainda não assistiu, também vai entender melhor aqui como o networking do crime está estruturado. Não se preocupe. Não vou contar que o “mocinho” morre no final (ops!).

Apesar de ser uma obra de ficção, os fatos retratados no filme certamente acontecem nas grandes cidades do país. Os acontecimentos dessa versão ocorrem treze anos após os do primeiro filme e mostra o crescimento do BOPE e os conflitos entre os policiais e milícias do Rio de Janeiro. O agora Tenente-Coronel Nascimento, interpretado mais uma vez brilhantemente por Wagner Moura, exerce uma função administrativa e está bem no meio de um duelo político. Ao mesmo tempo que ele usa a Segurança Pública para livrar a população dos traficantes de drogas e acabar com “o Sistema”, sem saber ele cria um poder paralelo – a milícia, que controla as favelas e financia campanhas políticas em todos os níveis com as arrecadações do moradores e comerciantes dessas comunidades no Rio de Janeiro.

Para que você entenda melhor como funciona “o Sistema”, precisa conhecer como está estruturado o Poder Executivo no Estado do Rio de Janeiro. Reportando ao Governador do Estado, existem diversos Órgãos, entre eles a Secretaria de Estado de Segurança (SESeg). Abaixo dela está a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), que é chefiada pelo Comandante Geral. A fim de descentralizar as ações do Comando-Geral da PMERJ, existem três Comandos subordinados a ele – o de Policiamento de Área (CPA), que coordenam os Batalhões de Polícia Militar; o Comando de Policiamento Pacificador (CPP) e o de Unidades Especializadas, que é o responsável pelo Batalhão de Operações Especiais, mais conhecido como BOPE. Também se reportando ao Comando-Geral está o Chefe de Estado Maior Geral (EMG), que tem entre suas responsabilidades a Seção de Inteligência, onde o Coronel Nascimento atua no filme.

Com uma estrutura organizacional tão complexa, subordinada ao Governo do Estado, fica mais fácil entender como “o Sistema” pode ser sustentado. De acordo com o “mundo fictício” retratado no filme, o Batalhão de Polícia responsável pelo patrulhamento da Zona Oeste, região com grande concentração de favelas na cidade do Rio de Janeiro, é comandada por alguns policiais corruptos. Esses PMs recebem uma parte dos lucros dos traficantes para deixá-los “trabalhar” sem serem incomodados da polícia. Essa arrecadação ilegal é então distribuída para “o Sistema”, ou seja, para todos os níveis da estrutura organizacional, incluindo o Governo do Estado e Deputados Estaduais aliados, que são eleitos por essa população carente.

Quando o BOPE ganha poder, mais equipamentos e armas, consegue praticamente exterminar o tráfico de drogas nas favelas “gerenciadas” por esse Batalhão. Só que, ao invés de quebrar “o Sistema”, esses policiais descobrem que eles podem ganhar muito mais protegendo a população contra os traficantes do que eles já ganhavam protegendo os traficantes da polícia. É então criada a milícia – policiais corruptos, encobertos por seus superiores para que continuem arrecadando dos moradores das favelas, e assim, sustentar os políticos ligados a esse “Sistema”. O Comando-Geral, a pedido do Governador e do Secretário de Segurança Pública, então utiliza sua rede para facilitar o crescimento da milícia. Ele dá ordens ao BOPE para invadir uma favela ainda dominada por traficantes.

É aí que a trama cruza com outra rede, essa do bem, centralizada no personagem Diogo Fraga, interpretado pelo ator Irandhir Santos. Fraga era defensor dos Direitos Humanos e se elegeu Deputado Estadual graças a uma ação mal-sucedida do BOPE, então comandado pelo Capitão Nascimento. Coincidências a parte, Fraga também se casou com Rosane, ex-mulher de Nascimento, e criou Rafael, o filho dela com o ex-Capitão do BOPE. O Deputado Fraga faz oposição ao Governo e investiga o financiamento ilícito das campanhas eleitorais para reeleição do governador e dos seus candidatos aliados. Quando uma jornalista descobre o networking do crime por trás do “Sistema”, Fraga e Nascimento trabalham juntos para desmascarar todos os envolvidos.

Se você ainda não assistiu, vale a pena conferir como essas redes de relacionamento se intercalam e se confundem. Para quem já curtiu Tropa de Elite 2, sabe até onde essa rede de poder já chegou. Isso nos faz pensar muito!

Um comentário:

  1. muito bom! estou fazendo uma pesquisa sobre o tema retratado e o filme me ajudou muito!

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