5 de out. de 2010

O que está por trás do “fenômeno Tiririca”? No que você se tornou por votarem em um palhaço?

A eleição do palhaço Tiririca a uma das vagas à Câmara dos Deputados já era dada como certa pelas pesquisas. A justificativa dada pelos seus eleitores também era conhecida. Fora um voto de protesto! Mas o fato desse candidato ter sido o mais votado em todo o país, superando inclusive o número de votos do candidato à Presidência Plínio de Arruda Sampaio, foi o que causou a maior repercussão negativa. Para os paulistas, ficou a vergonha de ter eleito uma pessoa analfabeta e claramente sem preparo político para uma função tão importante. O problema maior foi a repercussão mundial. Os principais meios de comunicação de todo o mundo divulgaram a vitória do candidato-palhaço e enalteceram com isso a ignorância do povo brasileiro no exercício da democracia.

Mas, afinal de contas, o que está por trás da eleição de Tiririca? Por que ele teve tanta exposição na mídia? De onde veio tanto dinheiro para promover sua campanha? A resposta está no chamado network político. As coligações que são feitas por grandes partidos com os nanicos tem o objetivo de aumentar a representação da bancada aliada na Câmara e no Senado. No caso de Tiririca, a coligação foi formada por PR - PRB / PT / PR / PC do B / PT do B. Desses todos, apenas um partido é grande e tem recursos para arcar com a campanha de Tiririca. Esse partido também tem o que ganhar com essa votação expressiva. Pouca gente sabe, mas o número de candidatos eleitos por um partido ou coligação é determinado pelo quociente eleitoral.

Para calcular os candidatos eleitos por um partido ou coligação, é preciso dividir o número de votos válidos (21.317.327) pelo número de cadeiras disponível (70) para o Estado. O quociente eleitoral, que é uma espécie de nota de corte, foi de 304.533 votos. Divide-se então o número de votos de Tiririca pelo quociente. Como ele recebeu 1.353.820 votos, essa coligação ganhou quatro cadeiras na Câmara, sendo a dele própria e a de outros três candidatos que não conseguiriam chegar lá sozinhos. Portanto, o maior partido da coligação ganhou, as custas de um palhaço, quatro representantes fiéis na base aliada para aprovar, sem questionamentos, os projetos de seu interesse.

O “coelho-eleitoral” Tiririca trouxe junto com ele os candidatos a Deputado Federal Otoniel Lima, do PRB, Protógenes Queiroz, do PC do B, e Vanderlei Siraque, do PT. Esses três não tiveram mais do que 100 mil votos, ou seja, menos de um terço do quociente eleitoral. Portanto, esse network político trouxe ao poder pessoas que não teriam chegado lá por seus próprios méritos. Além disso, eles gozarão de alguns benefícios bastante interessantes, tais como uma verba mensal de R$200.000 (Duzentos mil reais) para pagar o seu salário e de mais 25 assessores parlamentares, nomeados sem concurso e sem qualquer qualificação. Isso sem falar nas ajudas de custo com moradia, alimentação e viagens. O benefício maior, entretanto, é intangível. A famosa imunidade parlamentar, que garante a esses políticos direitos exclusivíssimos, acima do bem e do mal!

Para citar o que esse benefício representa, vamos analisar o perfil de dois candidatos eleitos na cola de Tiririca. O ex-delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz foi o responsável pelas investigações da Operação Satiagraha, que prendeu em 2008 o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito Celso Pitta e o investidor Naji Nahas por supostos crimes financeiros. Ele acabou afastado da investigação e virando alvo de inquérito da Polícia Federal. A suspeita é de que ele usou agentes da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) irregularmente. Posteriormente, acabou demitido do cargo e ainda está sob investigação da Polícia Federal.

Contra Vanderlei Siraque pesa a denúncia que, quando era deputado estadual pelo PT de Santo André, utilizou serviços públicos, pagos com dinheiro dos cidadãos, para fins pessoais, o que é considerado ato de improbidade administrativa por especialistas. De acordo com a investigação, o então parlamentar petista pagou a festa do seu aniversário de 50 anos com verba da Assembleia Legislativa. Em 2009, Vanderlei Siraque gastou R$ 236,9 mil com locação e manutenção de imóveis, serviços gráficos, materiais de escritório, combustível e manutenção do veículo oficial, contratação de pesquisas e consultorias, assinatura de revistas e jornais, hospedagem, alimentação, celular, dentre outras coisas. Tudo pago pela Assembleia.

Por mais que as investigações terminem por concluir a culpa desses políticos, a imunidade parlamentar não permite que sejam julgados e condenados pelas Leis aplicadas à cidadãos comuns, como eu e você. Tudo isso, associado à votação em massa para um candidato analfabeto, provoca em nós uma sensação enorme de injustiça. Mas como estamos do lado de fora desse network político, não podemos fazer nada a não ser lamentar pelos milhares que votaram no palhaço e nos fizeram se sentir como um deles!

Nenhum comentário:

Postar um comentário