15 de set. de 2010

Você lembra como a crise americana afetou o seu bolso aqui? Ela ainda está aí!

Hoje faz exatamente dois anos do início da maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão nos Anos 30. Foi em uma segunda-feira, no dia 15 de setembro de 2008, que o Lehman Brothers – o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos – entrou com o maior pedido de falência da história. Esse marco desencadeou a queda da primeira peça de um dominó gigante, que continua caindo até hoje e afetando economias em todo o mundo. E como vivemos em um mundo conectado, isso também afetou o seu bolso por aqui.

Mas se engana quem pensa que essa crise começou nesse dia. Esse dominó começou a cair cerca de dois anos antes, quando a bolha imobiliária norte-americana começou a inflar. Para que você entenda como uma ação que aconteceu a milhares de quilometros daqui afeta o seu dia-a-dia, reproduzo abaixo trechos de um texto de Weslei Dourado publicado no portal Administradores na época que a crise estourou. Ele conta a estória de Paul, um cidadão-modelo americano e como ele ajudou a criar a crise.

Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares. Vendo que imóveis não paravam de se valorizar, Paul comprou 3 casas em construção, dando metade como entrada. Com a outra metade comprou um carro novo pra ele, deu um carro para cada filho e com o resto do dinheiro equipou toda a casa com as maravilhas tecnológicas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço. O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. Então, as taxas que o Paul pagava começaram a subir e ele percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre. Milhões tiveram a mesma idéia.

As casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que Paul achava que já teria revendido as 3 casas. Mas como a oferta de casas nesse momento era maior que a procura, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul então deixou de pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de dólares de especuladores imobiliários iguais a ele. Paul não conseguiu renegociar a dívida com os bancos e entregou as 3 casas que comprou como investimento, perdendo tudo. As casas devolvidas não tinham compradores e por isso os bancos ficaram descapitalizados.

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Mas os bancos já haviam transformado esses empréstimos em títulos negociáveis por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó. Os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

E em um mundo globalizado, a queda no consumo na maior economia do mundo afeta diretamente a cadeia produtiva em todos os países que dependem dela. O Brasil foi um dos países que conseguiu se recuperar mais rapidamente dos efeitos dessa crise, mas não sem deixar marcas profundas por aqui. O impacto foi sentido primeiro nos bolsos de investidores, mesmo de um simples assalariado que investia seu dinheiro na bolsa. A desconfiança se espalhou pelo mercado. Os empréstimos por aqui tmabém sumiram. O comércio desaqueceu e a indústria começou a demitir. Os calotes aumentaram.

A receita adotada pelo governo funcionou rapidamente e tem feito a máquina funcionando bem até hoje. A injeção de dinheiro na base da pirâmide fez com que as classes D e E subissem de patamar. Com isso, passaram a consumir mais. As indústrias produzem mais e por isso precisam de mais empregados. Mais pessoas pagando impostos, colocam mais dinheiro nos cofres públicos, que voltam à base da pirâmide para que eles continuem gastando. Os bancos ficam confiantes com o modelo e emprestam mais dinheiro para girar a roda ainda mais forte. Mas como todo modelo econômico, o perigo mora ao lado. Todas as partes que fazem essa roda girar estão intimamente ligadas a outras rodas ao redor do mundo. Se uma se romper, todas voltam a desacelerar ou parar completamente, impactando no seu bolso uma vez mais.

Nesse mundo conectado em que vivemos temos que estar atentos a todos os eventos, em qualquer parte do mundo, mesmo aqueles que parecem que nunca afetarão nosso dia-a-dia.

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