21 de set. de 2010

Qual é a distância entre você e qualquer outro profissional que atua no seu mercado?

Todo e qualquer mercado profissional é composto por pessoas que não estão tão distantes entre si quanto imaginam. Por maior que um segmento empresarial possa parecer, a quantidade de profissionais que atuam nele é bastante reduzida. Escolha qualquer mercado – o de tecnologia, o do agronegócio, o petroquímico, o da política, o meio artístico. Seja qual for o mercado em que você atua, pode ter certeza que os demais profissionais nele presente estão a poucos apertos de mão de você.

Vamos explorar o futebol brasileiro como exemplo. Qual é a distância entre o Pelé, maior jogador de todos os tempos, e o atacante Leandro Amaral, que já atuou nos principais clubes paulistas e cariocas e joga atualmente no Flamengo? Eles estão separados por apenas uma pessoa, Carlos Alberto Parreira. Preparador físico na Copa de 1970, Parreira trabalhou com os craques que conquistaram o tri-campeonato mundial para a Seleção Brasileira de futebol. Depois de quase 40 anos de profissão, Parreira comandou o Fluminense no ano passado, que tinha Leandro Amaral no ataque.

Se você analisar o currículo profissional de Carlos Alberto Parreira, dá para imaginar a quantidade imensa de profissionais desse esporte com quem ele tem contato direto. Além de preparador físico da seleção brasileira nas Copas de 1970 e 1974, dirigiu em Mundiais as seleções do Kuwait, dos Emirados Árabes, do Brasil e da Arábia Saudita. Em 2003, reassumiu a seleção brasileira. Trabalhando bem próximo à Parreira, por mais de 4 décadas, está Mário Jorge Lobo Zagallo. Como jogador, Zagallo disputou duas Copas do Mundo e como treinador, foi o único a dirigir o Brasil em três Copas. Também foi coordenador da seleção em 1994 e em 2006. Pela bagagem que esses dois profissionais tem nesse mercado, podemos afirmar então que todos as pessoas que trabalham com futebol profissional no Brasil não estão muito distantes entre si.

O mesmo podemos afirmar do mercado da teledramaturgia brasileiro. Nessa semana foi comemorado os 60 anos da TV no Brasil. Uma festa realizada no sábado passado em São Paulo reuniu grandes nomes do meio artístico. Entre eles, o grande ator, diretor e dublador Lima Duarte, que trabalha nessa indústria desde o início. E qual seria a distância desse ícone das telenovelas para o canastrão Márcio Garcia. Essa é fácil. Eles estão diretamente ligados. Márcio interpretou Bahuan na novela global Caminho das Índias em 2009, que era filho de Shankar, personagem de Lima Duarte. Então também podemos afirmar que, virtualmente, todos os profissionais da teledramaturgia estão ligados entre si por apenas poucos apertos de mão. Claro que sim!

No Brasil não temos um banco de dados tão completo e organizado como nos Estados Unidos. O site The Internet Movie Database (www.imdb.com) guarda o histórico de todos os filmes já rodados naquele país e os atores que neles atuaram. Com essas informações, é possível conhecer com exatidão qual é a distância que separa qualquer profissional de Hollywood. Por exemplo, qual seria a ligação do mestre do suspense Alfred Hitchcock e o ator Kevin Bacon? Hitchcock trabalhou em “Show Business at War” em 1943 com Orson Welles. Este atuou no filme “A Safe Place” de 1971 com Jack Nicholson, que contracenou com Kevin Bacon em “A Few Good Men” em 1992.

Kevin Bacon, por sinal, é o melhor exemplo de como todos estão ligados entre si no mundo chamado Hollywood. Em uma brincadeira, três estudantes do Estado Americano da Pennsylvania em 1994 tentaram provar que o ator Kevin Bacon era o centro do universo hollywoodiano. Utilizando o banco de dados do IMDB, eles conseguiram provar que mais de um milhão de atores, de qualquer estilo de filmes e de todos os tempos, estavam de alguma forma ligados a esse ator inexpressivo. Essa brincadeira ganhou projeção nacional e logo virou um site chamado de Oráculo de Bacon (http://oracleofbacon.org). Nesse site você consegue simular todas as ligações possíveis e até as inimagináveis.

Foi então criado o conceito do Número Bacon, que é a média com que cada profissional do cinema se ligava a este ator. O número de Kevin Bacon é 2,970. Isso significa que, na média, ele pode chegar a qualquer um dos mais de um milhão de atores com no máximo três contatos. O Número Bacon demonstra fatos curiosos. Mel Blanc, cujo nome é totalmente desconhecido do grande público, tem muito mais atuações que Bacon. Ele era a voz dos mais conhecidos personagens de desenho animado, tais como Pernalonga, Pica-pau, Patolino, Gaguinho, Tom & Jerry, Barney Rubble, Capitão Caverna, Taz, Hardy, etc. Mel tem o número 3,208, ou seja, está quase a mesma distância de Bacon dentro desse universo. Jenna Jameson, considerada a “Rainha do Pornô” e que já ganhou mais de 20 prêmios da indústria pornográfica, tem o número médio 3,291. Curiosamente, tanto Mel Blanc como Jenna Jameson estão ligados a Kevin Bacon por apenas um amigo em comum.

Vamos aplicar os exemplos de Mel e Jenna a outro mercado, como o de tecnologia. Esse é um mercado imenso, que inclui fabricantes, prestadores/operadoras de serviços, distribuidores, revendedores, seja de hardwares ou de softwares, etc. Aí temos diversas áreas, tais como Tecnologia da Informação, Telefonia Móvel ou Fixa. Supondo então que Kevin Bacon fosse um diretor de TI em um banco, Mel Blanc fosse um técnico de campo de um fabricante de centrais telefônicas e Jenna Jameson uma gerente de uma operadora de telefonia celular. É muito provável que eles estejam distantes entre si através de alguns poucos contatos. Você duvida? É só se lembrar quantas “coincidências” você já encontrou no seu mercado. Amigos em comum que você nem imaginava que eles se conheciam.

A má notícia para você é que qualquer deslize na sua carreira será de conhecimento de todos naquele mercado. Por outro lado bom, se você é um profissional competente, seus méritos também abrirão muitas portas. Exercite seu networking e esteja bem conectado aos principais profissionais do mercado!

2 comentários:

  1. Espetacular! Já sabia da teoria dos Six Degrees of Separation, segundo a qual todo e qualquer ser humano está 'distante' de qualquer outro ser humano, no máximo, de 6 graus de separação, ou como você chama, 6 apertos de mão. E costumo aplicar comigo mesmo: estou a três 'apertos de mão' de Barack Obama! Importante, não? É que meu primo, que foi diretor de redação da Folha de SP, ficou amigo de Bill Clinton na primeira visita dele ao Brasil, trocaram presentes, enfim ... Daí a Obama, é um pulo!! Ou um aperto de mão!
    Genial o Número Bacon! Não conhecia, apesar de ser habitué do site que você indicou, o www.imdb.com, em que entro só pra verificar a quantas anda a lista dos Top 250.
    E, apenas como brincadeira, acrescentaria que o tipo de contato dessa tal Jenna deve ser um pouco mais que um aperto de mão, HeHeHe!
    Super aproriada a correlação final!!!
    Fiquemos de olho!!!

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  2. Andre Sales25/9/10 10:38 AM

    Muito interessante! No LinkedIn poodemos ver com clareza a quantos contatos estamos de gente muito influente. Na matemática, tudo bem. O problema é o fator "O que Maria leva?", adotado amplamente. Tudo bem que muitos acreditam na teoria "Uma mão lava outra", mas a verdade é que sempre que A pede a B uma indicação ou contato com C, que é conhecido ou amigo de B, o que B pensa é: O que será que A vai fazer com C? Será que C vai gostar de eu ter indicado A? E se A ficar enchendo C, como ficam as minhas relações com C?". Ou, às vezes: "Ah, tudo bem, vou indicar A para C e o que acontecer daí por diante, se não for bom, não me importa". E somente raramente: "Realmente vale indicar A para C. Eles precisam mesmo se conhecer e podem ajudar muito um ao outro". E muito mais raro ainda: "Meu amigo A, consegui um grande contrato para vc com o C e vc não precisa me dar nada por isso". Portanto, a vida em rede de hoje é positiva porque vai revelar quem realmente está a fim de ajudar o outro sem interesses, a não ser o da auto-satisfação. Acredito que só assim, a rede se alimenta de uma boa energia e as portas se abrem mesmo, na base do "Fulano sempre me ajudou e nunca pediu nada. Além disso, é bom no que faz. Vou indicá-lo". Aí sim...Caso contrario, as relações em rede podem se tornar um tremendo fator de constrangimento, além do lado bom de rever velhos amigos.

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