22 de mar. de 2012

Você ficou revoltado com as denúncias de corrupção na Saúde Carioca?

As denúncias de corrupção feitas pela TV Globo no último domingo revoltaram a população. O que mais chocou a opinião pública foram as imagens de câmeras escondidas flagrando os fornecedores de vários tipos de serviços oferecendo propina de forma escancarada para o jornalista que fazia o papel de gestor de compras do Hospital de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A naturalidade com que os corruptores agiam deixou muita gente indignada com o que acontece nos bastidores da saúde pública carioca.

Se você também se surpreendeu e se revoltou com as revelações divulgadas pela Globo, saiba que isso não é nem a ponta do iceberg. Esse tipo de prática nociva não acontece somente no Rio de Janeiro, também não está restrito apenas à área da Saúde, muito menos é praticada somente por fornecedores de serviços, e ainda mais surpreendente, não é uma exclusividade do setor público desse País. (Saiba mais no texto "É possível medir o grau de amizade entre vendedores e compradores?" em http://network4sales.blogspot.com.br/2011/07/e-possivel-medir-o-grau-de-amizade.html)  

Toda relação comercial é um jogo de interesses. De um lado o comprador é estimulado pelo benefício que ele pode trazer para sua empresa e do outro o vendedor é estimulado pelo atingimento das metas definidas pelo seu empregador. Quando um desses dois lados está despido de ética, joga a isca para o outro lado, mostrando que o benefício pessoal é maior que o risco. Quem morde a isca acaba se associando definitivamente à rede de profissionais inescrupulosos – o “networking do interesse”.

É importante ressaltar que o “networking do interesse” não é formado apenas pelo comprador e vendedor. Ele é muito maior e bem estruturado do que se imagina. Quem compra pode estar respaldado pelo seu supervisor ou por um “patrocionador”. Quem vende normalmente está alinhado com seus superiores e, em alguns casos, também está mancomunado com seus concorrentes, que são usados para oferecer preços superiores nos processos licitatórios. Esses esquemas são tão bem arquitetados entre os integrantes do “networking do interesse”, que são muito difíceis de serem descobertos. E caso isso aconteça, como pelo Fantástico, os esquemas são facilmente desmontados de forma que apenas os elos mais fracos sejam punidos.

O fato é que qualquer pessoa que já tenha atuado nesse meio conhece muito bem como funcionam os esquemas de combinação de preços e de direcionamento técnico de propostas visando superfaturamento e, consequentemente, os ganhos ilícitos para os envolvidos. No caso de empresas privadas, o “networking do interesse” pode funcionar de outras diversas maneiras. Em uma delas, por exemplo, um comprador abre uma empresa “laranja” para fornecer insumos para sua área. Como esse comprador tem acesso aos preços e às limitações dos concorrentes, ele consegue facilmente justificar o fornecimento pela empresa “laranja”. Do lado de vendas, as companhias contratam representantes autônomos para fazer o trabalho “sujo” de corromper os clientes. Assim esses contratantes se desvinculam do “networking do interesse” caso os esquemas sejam revelados.

E aí você se pergunta, o que fazer então para que essas práticas não se perpetuem? Uma das medidas que o Governo já está tomando é aumentar os riscos em relação aos benefícios do corrupto. Isto é, criar uma lei para punir quem oferece propina. Outra medida seria criar um cadastro único de fornecedores “ficha suja” para que essas empresas saiam definitivamente do mercado quando suas falcatruas forem descobertas.

Entretanto, o mais importante para desarticular de uma vez por todas o “networking do interesse” está na formação do indivíduo, na base familiar, na educação e nos exemplos que os jovens recebem daqueles que os cercam. Somente quando a Ética for um valor incorporado ao caráter desses futuros profissionais é que deixaremos de assistir cenas deploráveis como as que vieram à tona essa semana. Faça a sua parte! Seja o exemplo!

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