3 de nov. de 2010

Você conhece bem o seu colega de trabalho? Por que isso é importante para sua carreira?

A menos que você seja um dos 33 mineiros que ficaram soterrados por 69 dias a 700 metros de profundidade na mina San José em Copiapó no Chile, sua resposta tem que ser NÃO! Pode-se afirmar que você só conheceria bem seus colegas de trabalho, e quem faz parte da rede de relacionamento deles, se vivesse esse tempo todo em um ambiente de clausura, como nessa situação extrema ocorrida a alguns meses no deserto do Atacama.
Como esse não é o caso, é pouco provável que você conheça bem quais são os interesses pessoais e profissionais daquela pessoa que passa dias, meses e até vários anos ao seu lado no ambiente de trabalho. Existe uma maneira infalível de conhecer seu colega de trabalho. Como diz o ditado – “Quer conhecer bem uma pessoa, dê poder à ela!”.
Sem dúvida nenhuma, quando uma pessoa ganha poder dentro de uma organização, você consegue perceber de verdade quem é o indivíduo que se escondia por trás da máscara profissional. Ela não muda apenas sua forma de agir e de pensar, mas também pode mudar seu comportamento com os antigos colegas de trabalho. Mas não é apenas uma promoção que dá poderes para uma pessoa. O poder está principalmente nas alianças, no networking, ou falando na linguagem popular das empresas, nas “panelinhas”! Toda empresa, sem exceção, tem “panelinhas” sistematicamente organizadas. São clãs que se formam com o tempo, em silêncio, nos bastidores das empresas, seja por afinidade pessoal ou por interesse profissional em comum.
Mas porque é importante para você e para sua carreira conhecer o networking dos seus colegas de trabalho? É simples. Se você não conhece bem o seu colega de trabalho, não sabe ao certo em quais “panelinhas” esse indivíduo participa e, consequentemente, também não saberá quando e nem como ele ganhará poder dentro da organização.
Aqui estão alguns exemplos bastante comuns que eu já presenciei nesses quase 20 anos de vida corporativa.
  • Promoção – esse é o caso clássico de ganho instantâneo de poder. A empresa está crescendo, o chefe foi remanejado e surgiu aquela vaga tão sonhada por todos os subordinados. Depois de um processo seletivo interno, um deles é escolhido para assumir a chefia. Mas a felicidade está na cara apenas de alguns. São aqueles que fazem parte da “panelinha” do novo chefe. Só que o tiro pode sair pela culatra. Se a “panelinha” dos descontentes for maior e mais forte, a vida do novo chefe não será nada fácil. No caso mais emblemático que eu acompanhei, a maioria dos subordinados jogou contra o novo chefe até que ele foi demitido da empresa.  
  • Transferência interna – você é o cara novo no pedaço. Fez bem o seu trabalho em outra divisão da empresa e, como reconhecimento, foi transferido para um novo departamento. Só que você não sabe aonde está pisando. As “panelinhas” já estavam formadas e niguém sabe muita coisa ao seu respeito. Isso é ótimo por um lado, porque você pode adotar seu método de trabalho sem maiores problemas, mas é péssimo por outro. Afinal, você tomou o lugar que poderia ser ocupado por mérito por qualquer um dos seus novos subordinados. Eu já passei por isso e posso dizer que é muito mais difícil do que parece saber identificar e lidar com os interesses de cada uma das “panelinhas”.
  • Contratação externa – quando um novo profissional chega na empresa, sua vida é até mais difícil do que na situação anterior. Você também não sabe aonde está pisando e muito menos tem alguém de peso te dando cobertura. A situação que eu acompanhei foi ainda mais complicada. O novo diretor trabalhava antes como prestador de serviços terceirizado desse mesmo departamento. Ou seja, aqueles que “mandavam” nele, passaram a ser seus novos subordinados. Nesse caso, o repúdio foi enorme, mas a pessoa foi bastante inteligente e competente para mostrar que tinha capacidade de trabalhar bem com todos os clãs que já existiam na empresa.
  • Recontratação – você trabalha há algum tempo em uma organização, já tem seu espaço cativo, conhece bem todas as “panelinhas”, mas recebe uma proposta de trabalho tentadora e sai da empresa. Não é preciso dizer que várias pessoas jogarão todos os “podres” da sua área nas suas costas. Um certo dia você recebe uma proposta ainda melhor para voltar para a antiga casa, com uma posição ainda melhor. O problema é que a campanha negativa na sua ausência denigriu a sua imagem a ponto de te excluirem de todas as “panelinhas” que você dominava. Sua vida vai virar um inferno remunerado em horário comercial. O desfecho do caso que eu presenciei não foi dos melhores. O recontratado não suportou o ambiente negativo, como diria o Capitão Nascimento em Tropa de Elite, “pediu pra sair!”
  • Reorganização – é o clássico dos clássicos! A única coisa que não muda em uma empresa é a sede por mudanças, ou em termos administrativos, reorganizações. Sempre que isso acontece, o poder muda de mãos. E é nessa situação que as “panelinhas” ficam mais claras. Quando uma divisão é absorvida por outra, por exemplo, o chefe da divisão receptora preserva seus pupilos, mesmo que eles não sejam tão competentes que os da extinta. O destino dos “desabrigados organizacionais” normalmente é trágico. Ou se contentam com uma função inferior ou são convidados a se retirar da empresa.
  • Fusão ou Aquisição – você é o cara! Trabalha há muitos anos na empresa, conhece todo mundo e todos te adoram. Até que um dia é anunciada a compra ou a fusão da sua empresa por outra. Existem casos marcantes em que uma organização compra sua principal concorrente. As “panelinhas” são aniquiladas, mortas no ninho! Quando se trata de uma fusão, suas chances de sobrevivência são maiores. É só torcer para que alguém do seu clã seja promovido. Mas se ocorrer o inverso, pode começar a mandar currículo. O fim está próximo!
Esses são apenas alguns exemplos. Você deve conhecer outros tantos ou até os mesmos que eu citei. O fato é que, sem dúvida, o desenvolvimento da sua carreira depende muito do networking que você faz dentro da empresa... e ainda mais do networking que você não faz!

3 comentários:

  1. Muito bom, mano! Artigo digno de um bom consultor de carreiras. Conheço vários casos citados e só vejo um remédio para se prevenir de uma boa panela: humildade para lembrar que quase nada somos, mesmo quando temos o reconhecimento de que estamos indo bem.

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  2. Sim, vi um caso numa grande empresa multinacional onde mudou o Chefe do Departamento (Diretor) e o que assumiu demitiu gente competente para poder colocar seus pupilos menos competentes mas amigos do peito desde que este era um gerentinho novo.....aliás, se a energia que alguns gastam para bajular e fazer conchavos políticos fosse gasta em melhorar processos, as empresas prosperariam muito mais facilmente....

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  3. Muito bom o artigo. Se bem que nunca ví nada semelhante nas organizações em que atuei :)

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