29 de nov. de 2010

Você conhece alguém com AIDS? Sabe como essa pandemia começou?

Provavelmente você tem pelo menos um amigo próximo que seja portador do vírus HIV. Talvez você não saiba disso. Talvez nem mesmo o seu amigo saiba ainda, já que o tempo entre a infecção inicial e o desenvolvimento de anticorpos detectáveis contra a infecção pode variar de 3 à 6 meses.

No meu caso, posso afirmar que já conheci algumas pessoas próximas com AIDS. Eu nasci e fui criado em Santos, cidade no litoral paulista e que tem o maior porto da América Latina. No início dos anos 80, as centenas de navios que aportavam toda semana no cais traziam para o centro da cidade milhares de tripulantes extrangeiros interessados na grande oferta de prostituição e drogas que aquela zona da cidade oferecia. Não demorou muito para a cidade de Santos ser apontada como o município brasileiro com o maior índice de mortes por AIDS por habitante. Com o perigo rondando a vizinhança, era comum saber de algum conhecido que tinha sido infectado pelo vírus HIV.

As doenças infecto-contagiosas nos ensinam, de maneira dolorosa, como todas as pessoas no mundo estão conectadas entre si, já que o contágio muitas vezes só acontece por contato físico ou por aproximação. Esse networking é tão imprevisível que é extramamente complicado controlar uma epidemia, como a gripe suína que ocorreu no ano passado com início no México. Analisando a fundo a origem de uma epidemia, é interessante observar que todas começam com apenas um indivíduo, chamado de Paciente-Zero.

No caso da AIDS, o título de Paciente-Zero foi atribuido ao cidadão franco-canadense Gaëtan Dugas, que era homossexual e trabalhava como comissário de bordo na companhia aérea Air Canada. Em 1977, Dugas teve um caso com um jovem africano em Paris. No ano seguinte, o corpo do canadense estava recoberto de manchas roxas que os médicos diagnosticaram como sarcoma de Kaposi, informando se tratar de uma forma de cancêr perfeitamente curável. Porém era o primeiro sintoma da doença.

A identidade de Dugas, entretanto, só se tornou conhecida em 1979, quando um de seus amantes apareceu em uma clínica com o mesmo sarcoma de Kaposi pelo corpo. O sujeito admitiu que tivera um caso com Dugas e ainda deu o nome de um terceiro sujeito que também se relacionara com ele e apresentava os mesmos sintomas. Em Junho de 1980, Gaëtan Dugas foi informado que a doença que ele possuia, até então conhecida como “o cancêr gay”, era transmitida sexualmente. Quando soube que estava contaminado, ele ficou inconformado e se recusou a praticar sexo seguro para prevenir a proliferação da doença.

Por conta da sua profissão, ele viajava ao redor do mundo disseminando o vírus em relações sexuais tanto com homens como com mulheres. Segundo dados reunidos após a morte de Dugas, em Março de 1984, dos primeiros 284 casos de AIDS registrados nos EUA, pelo menos quarenta estavam relacionados com sujeitos que haviam tido algum envolvimento sexual com ele. Somente na América do Norte, Dugas confirmou que teve mais de 2.500 parceiros sexuais.

Nessa época, a imprensa passou a utilizar o termo "GRID", sigla para "Gay-related immune deficiency", para se referir a doença. Somente em Setembro de 1982 que o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) começou a usar o nome de AIDS para definir adequadamente a doença. A Síndrome da ImunoDeficiência Adquirida (AIDS, em inglês) é uma doença do sistema imunológico humano causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, em inglês). Esta condição reduz progressivamente a eficácia do sistema imunológico e deixa as pessoas suscetíveis a infecções oportunistas e tumores.

É sempre importante divulgar que o HIV é transmitido através do contato direto de uma membrana mucosa ou na corrente sanguínea com um fluido corporal que contêm o HIV, tais como sangue, sêmen, secreção vaginal, fluído preseminal e leite materno. Esta transmissão pode acontecer durante o sexo anal, vaginal ou oral, transfusão de sangue, agulhas hipodérmicas contaminadas, o intercâmbio entre a mãe e o bebê durante a gravidez, parto, amamentação ou outra exposição a um dos fluidos corporais acima.

Diante de taxas altíssimas de propagação da doença e de números assombrosos de contágio por falta de informação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu instituir, em Outubro de 1987, o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A data de 1º de Dezembro, que será observada em todo mundo essa semana, serve até hoje para divulgar as formas de contágio e prevenção, como também para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV/AIDS.

Mesmo com inúmeras campanhas de conscientização e métodos de prevenção, estima-se que a o vírus HIV já infectou mais de 60 milhões de pessoas no mundo e que as deficiências causadas pela AIDS tenham matado mais de 3 milhões de pessoas, incluindo 500.000 crianças, menores de 15 anos de idade. No Brasil, estima-se que existam mais de 630 mil pessoas vivendo com o HIV. Desde o início da epidemia em 1980 até junho de 2009, foram registrados 217.091 óbitos em decorrência da doença. Cerca de 35 mil novos casos da doença são registrados todos os anos no país. Dos 5.564 municípios brasileiros, quase 90% já registraram pelo menos um caso da doença.

Seja pelo HIV ou por qualquer outra doença infecto-contagiosa, a contaminação não respeita fronteiras, não escolhe raças e nem discrimina classes sociais. A velocidade com que essas doenças se propagam e a dificuldade para conter a proliferação nos mostra o quão próximos estamos uns dos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário